Principais Festas e Rituais
Banho da prosperidade:
Costume que vem dos países da Europa central, principalmente Hungria e Áustria.
Logo que o bebê cigano nasce, geralmente ainda na primeira semana de vida, é preparado o banho da prosperidade ou o banho da sorte para o pequeno cigano ou cigana. Os preparativos são realizados pela mãe do bebê e pelas demais mulheres do clã, pois um bebê representa para todos a garantia da continuidade de seu povo.
O RITUAL: Após um rápido banho de higiene, o bebê é transferido para outra bacia contendo água pura, as jóias de família, pétalas de rosas brancas e algumas gotas de mel.
A água pura simboliza a própria vida, traduzindo o sentido da purificação, da limpeza natural do corpo físico e do corpo áurico e do livramento das faltas cometidas no passado.
As jóias significam o desejo de que o bebê seja rico, próspero e bem sucedido financeiramente.
As pétalas de rosas brancas expressam a vontade de que o bebê tenha uma vida bela, perfumada. Bem sucedida no amor, e repleta de paz (o branco).
As gotas de mel traduzem o desejo de que aquele novo ser tenha uma vida tranqüila, doce, livre de sofrimentos e dores, com saúde.
Enquanto o bebê é banhado por sua mãe, as mulheres rezam, especialmente a mãe do bebê, velhas orações herdadas dos antepassados. O clima é de muita alegria. Vida longa, rica e próspera, cheia de amor e paz sustentada por uma saúde perfeita é o significado abrangente do banho da prosperidade.
Após o banho todos se reúnem para dançar, comer, beber e cantar, felizes por terem cumprido mais uma vez um ritual talvez milenar, de desejos positivos ao pequeno ser, nas mãos do qual se deposita a esperança da continuidade do clã e do próprio povo cigano.
O nome:
Em geral, um cigano possui três nomes: o primeiro, que só ele e sua mãe conhecem; o segundo, como ele é chamado pelos ciganos do clã; e o terceiro, como é chamado pelos gajons.
O primeiro nome, absolutamente secreto, é escolhido pela mãe e soprado em seus ouvidos na ocasião da primeira mamada. Este nome somente é conhecido por sua mãe, não sendo registrado ou comentado com ninguém. Somente aos sete anos de idade a pessoa passa a conhecê-lo, mas nunca o revela a ninguém. O povo cigano acredita que este nome é a ligação espiritual entre a mãe e seu bebê, e é usado apenas em situações bastante difíceis ou complicadas, em apelo especial de proteção.
A Slava:
Toda criança cigana possui um santo protetor escolhido por seus pais. A escolha do santo é feita por algum aviso recebido em sonho, como homenagem por alguma graça recebida, ou através de alguma mensagem que soe como um aviso.
Todos os anos, no dia do santo protetor, a família promove uma festa em homenagem ao santo. Os pais prosseguem com esta obrigação durante toda a vida do filho e, quando eles morrem, cabe ao filho prosseguir da mesma maneira com a cerimônia anual, enquanto viver.
Esta festa é conhecida como slava e para ela são convidados os parentes e amigos mais chegados.
A festa começa pontualmente às doze horas, com os pais, a criança e os convidados reunidos em torno da mesa onde serão servidas as bebidas, a comida, as frutas e o vinho. No centro da mesa é colocada a imagem do santo protetor, uma vela enfeitada de flores, um pão redondo e uma garrafa de vinho. Logo após acender a vela, que dá início à festa, o pai e a criança, frente a frente na cabeceira da mesa, começam a girar o pão recitando preces de agradecimento. Um parente próximo então derrama um pouco de vinho em quatro partes do pão, que serão beijadas pelo pai e pela criança. O pão em seguida é partido ao meio e recolocado no centro da mesa. Às dezoito horas, os pais renovam os agradecimentos e reforçam os pedidos ao santo, apagando a vela com um pedaço de pão bento.
Depois disso, todos comem, bebem, cantam e dançam em louvor à criança e ao santo protetor.
A cerimônia do Noivado:
Antigamente, o compromisso matrimonial era firmado quando os filhos eram bem pequenos, muitas vezes quando as mães ainda estavam grávidas. Com o passar do tempo este costume foi se perdendo, mas ainda nos dias atuais é possível encontrarmos noivos que só passam a se conhecer no dia do casamento.
Segundo a tradição, a festa de noivado era realizada com a troca de punhais comprados pelas famílias dos noivos. O punhal da noiva era mais enfeitado com pedrarias e feminino, e o do noivo mais discreto. Após a confirmação do noivado, os punhais eram guardados cuidadosamente até o dia do casamento quando voltariam a ser usados na parte mais importante do casamento.
Quando o compromisso de matrimônio era firmado entre as famílias, os pais dos noivos compravam uma garrafa da mais fina champanhe ou vinho da melhor qualidade e embrulhavam a garrafa em um lenço de seda vermelho. No dia do noivado a bebida era servida para brindar os noivos e o punhal da noiva guardado nesse mesmo lenço vermelho até o dia das bodas.
O noivo presenteia a noiva com o kepara, cordão de ouro que simboliza o compromisso de noivado. Caso seja rompido o compromisso, o que raramente acontece, o kepara é retirado e devolvido à família do noivo, pois em geral é jóia de alto valor.
No dia do noivado os pais da noiva fixam o valor a ser pago como dote no dia do casamento pelos pais do noivo. A quantia é baseada nas qualidades da moça, em sua beleza e em seus conhecimentos e habilidades para bem administrar o futuro lar. Quanto mais prendada e bonita for a jovem, maior será o valor do dote. Esta importância a ser paga, em geral em moedas de ouro, não é encarada como compra da noiva, mas como uma retribuição pelos gastos futuros e proteção dada à noiva pela família do noivo, pois depois de casados, manda a tradição que residam com os familiares do noivo de um a três anos. Este tempo é fixado para que a jovem esposa se adapte à sua nova família, aprendendo todos os gostos e hábitos de seu marido. Ela deverá tratar os sogros como sua verdadeira família, como pai e mãe, sendo tratada como uma filha. Deverá responder obedientemente à sogra e ao sogro, além do marido é claro. É sua obrigação zelar pela casa e responder integralmente por ela na ausência da sogra. No entanto, se ela for espancada ou mal tratada pela sogra, poderá retornar ao lar paterno, não sendo sua família obrigada a devolver o dote recebido na ocasião do casamento.
Com o nascimento do primeiro filho, o casal poderá deixar a casa de seus pais e seguir o rumo que desejar, com uma exceção. Caso o jovem seja o filho caçula, deverá permanecer morando com seus pais e esposa, cuidando deles em todas as suas necessidades até o final de seus dias, e ele será o maior beneficiário dos bens paternos, herdando a casa em que estiver morando e todos os bens nela existentes. O restante do patrimônio dos pais será dividido entre os outros filhos.
O Casamento:
A festa de casamento é uma das mais bonitas quando realizada segundo as tradições. Alegre, colorida e muito concorrida, ela pode durar vários dias, principalmente se os pais do noivo forem ricos, pois são eles que arcam com as devidas despesas.
Cabe à família do noivo arranjar o local para a festa, as acomodações para os convidados, especialmente os que vierem de longe, e todas as custas das comidas e bebidas, que devem ser fartas e de excelente qualidade. A festa de casamento é uma das raras oportunidades de um cigano mostrar seu poderio econômico, motivo de vaidade familiar e pessoal. Os pais do noivo também mandam confeccionar os trajes dos noivos, inclusive a da noiva, sendo a vestimenta a melhor maneira da demonstração da riqueza dos futuros sogros. O vestido da noiva, na cor vermelha, deve ser de tecidos caros como seda, o brocado e as rendas, bordados com fios de preferência de ouro e ela deve comparecer à cerimônia usando as principais jóias da família e as presenteadas pelos pais do noivo, que devem exceder em valor e beleza as primeiras. Prendendo parte dos cabelos a noiva traz nos cabelos o lenço vermelho, também rico e com aplicações em ouro. O noivo se casa também de vermelho como cor principal, podendo usar o branco como cor complementar. Ele usa cordões de ouro no pescoço e sobre a faixa vermelha de seda enrolada na cintura correntes com moedas de ouro. Os pais dos noivos e os convidados usam seus melhores trajes e jóias.
A bênção nupcial ou consagração do casamento é oficiada pelo patriarca do clã, um leigo (os ciganos não possuem sacerdotes), investido de autoridade para tal.
É armado um altar próximo à tenda principal, ornamentado com flores, especialmente rosas vermelhas e brancas, e sobre ele colocada a imagem de Santa Sara e do santo protetor. Velas de várias cores são acesas ao lado de taças com água e vinho, significando a luz, a vida e a alegria, respectivamente e de braseiros junto ao altar evola a fumaça de incensos purificando o ar de qualquer energia negativa que possa estar presente. Peças de ouro e jóias permanecem em um pequeno baú sobre o altar, expressando o desejo de que os noivos sejam prósperos e não passem necessidades. Frutas, doces e trigo completam a decoração, traduzindo os votos de fartura para o jovem casal e que nunca faltem alimentos m sua tenda.
É iniciada a cerimônia. O oficiante posta-se diante do altar e os noivos colocam-se frente a frente, diante dele, cercados pelos parentes e convidados, que silenciosamente testemunham o rito matrimonial. Entre rezas e invocações, o oficiante segura os punhais trocados por ocasião do noivado, sendo o lenço vermelho de seda atado ao punho dos noivos por um parente próximo. Através do lenço, o punhal da noiva realiza um pequeno corte no punho do noivo e vice-versa. Este é um momento simbólico do ritual quando o sangue dos noivos se mistura significando que eles estão unidos para sempre. Desatado o lenço os punhais são guardados juntos no mesmo lenço vermelho pelo casal, num local reservado e secreto da tenda para que tenha união e entendimento enquanto durarem suas vidas. Os ciganos não casam pensando em separação, mas em união eterna.
Realizado o ato com os punhais, um pequeno pedaço de pão com um pouco de sal é oferecido aos noivos para que comam, simbolizando o alimento e o sabor. O pão, o alimento, a união duradoura do casal, e o sal, o sabor, a capacidade de superarem as agruras e dissabores pelo amor de um pelo outro. Enquanto o pão nutrir e o sal tiver sabor, o casal permanecerá unido.
Finalmente, chega o final da cerimônia. Uma taça de cristal com vinho é oferecida aos noivos. Primeiro bebe a noiva e depois o noivo, que em seguida atira a taça ao chão para que se quebre. A taça deve ser do mais fino cristal para simbolizar a vida transparente do casal, onde o amor deve imperar acima de tudo. O vinho traduz a alegria e a felicidade, que envolve os jovens e a quebra da taça o desejo de que nada abale a união do casal, que deve ser perfeita, harmoniosa e forte apesar de toda a fragilidade de uma união. Caso a taça não quebre, isto traduz um sinal de mau agouro ou que a união poderá se desfazer. Nesse caso, o noivo pisa fortemente na taça para esmigalhá-la, expressando e dizendo publicamente que ele e sua mulher estarão juntos para sempre apesar de qualquer adversidade ou contratempo. O simbolismo do cristal é ainda mais rico, pois seus pedaços não podem ser rejuntados, ou colados uma vez quebrado, pois ficam estilhaçados, não oferecendo a menor possibilidade de recuperação. Assim deve ser o casal cigano: lindo, transparente, firme e sólido, apesar da extraordinária fragilidade humana e seus vínculos.
Novas orações e pedidos da proteção de Deus para os noivos e cerimônia em si termina, mas a festa ainda tem de aguardar mais um momento precioso e sério, quando a virgindade da noiva, agora esposa, será verificada pelas mulheres mais importantes do clã. Quando a jovem esposa passa pelo teste, verificando-se que ela ainda é virgem, as mulheres e a recém-casada saem da tenda com ar de triunfo, sendo o fato participado a todos, e a festa pode começar.
Começa enfim a festa propriamente dita, com muita música, danças, comidas e bebidas. Fogueiras são acesas e uma contagiante felicidade toma conta de tudo. A festa de casamento e sua cerimônia é, sem dúvida, a maior expressão da exaltação cigana da amorosa natureza deste povo, da entrega incondicional de um homem à sua mulher e desta mulher a seu homem.