Entries in Ciganos (18)

Wednesday
Apr152020

Documentário sobre ciganos

Tuesday
Jul182017

O Ritual do chá.

Em todas as festividades, não pode faltar o chá cigano tradicional e energético, que tem um significado especial em cada ingrediente. Este chá tem uma conotação espiritual tão intensa, que fazê-lo e tomá-lo requer um ritual.

            Cada ingrediente usado tem um significado especial, por isso tem que ser escolhido com muito cuidado.

            O Samovar, utensílio de origem russa, é apropriado para preparar e servir o chá. Isso dá a esse ritual um aspecto rico, requintado e característico. Se você não possuir um, escolha uma chaleira ou bule bem decorado para fazê-lo.

Ingredientes usados no ritual do chá:

 

Para servir com o chá: Colocar numa tigela à parte, já previamente lavadas, as frutas: morangos, damascos, uvas Itália, ameixas secas e maçãs picadas ao suco de limão. A quantidade de frutas deverá estar de acordo com o número de pessoas a serem servidas.

 

Preparação do chá: Ingredientes:

2 litros de água

28 cravos – o cravo significa energia física e força vital que vai para a corrente sanguínea

28 paus de canela – a canela é revigorante

21 anis estrelado – representa a união com seu Eu interior. Paz

Caldo de 3 laranjas pêra – a laranja significa alto astral, alegria

 

Modo de fazer o chá:

Quando a água atingir a fervura, junte todos os ingredientes e deixe ferver por alguns minutos.

Serve-se o chá como um ritual. Em cada xícara deve ser colocada uma fruta de cada espécie citada acima, pois cada uma tem um significado:

Morango – harmonia e purificação do organismo

Damasco – transcendência, prosperidade, força e equilíbrio

Ameixa seca – transformação

Pedaço de maçã ao suco de limão – paixão, casamento, união e amor.

 

 

Saúde!  Namastê!

Monday
Jun192017

A leitura do baralho cigano

O povo cigano, de origem asiática, tornou-se peregrino devido às perseguições sofridas. Em geral, quem fazia uso dos oráculos eram as mulheres, e nenhum cigano tomava alguma atitude sem antes ouvi-las. Praticavam o jogo de dados, o jogo de espelhos, a leitura da borra de café, a leitura das mãos e das cartas.

            Não se conhece muito sobre a origem do baralho cigano, mas há quem afirme que, ao passar pelo antigo Egito, os ciganos tenham tido contato com o Tarô, que era utilizado pelos sacerdotes e iniciados egípcios. Pela condição de peregrinos, os ciganos precisavam de um oráculo que lhes permitisse prever o futuro, entender o passado e saber como lidar com o presente. No entanto, o Tarô parecia muito subjetivo e seus símbolos não correspondiam ao cotidiano do cigano. Sendo assim, os ciganos criaram um novo “jogo” baseado naquele que tinham conhecido no Egito, mas repleto de símbolos ligados à sua magia e sua tradição. Este novo Tarô – conhecido como Tarô Iniciático ou Tarô Cigano – jamais foi revelado aos gajon (não ciganos). Suas lâminas eram pintadas à mão e passavam por herança de mãe para filha, o que permitiu manter o segredo até o século XX.

            Por volta de 1770, uma não cigana, Madame Le Normand, mas interessada na cultura e no oráculo cigano, conseguiu uma cópia dessas lâminas e mandou imprimir, com base nelas, um baralho, ao qual chamou inadequadamente de “baralho cigano”. O seu erro foi ter confundido o verdadeiro oráculo do povo do oriente com uma versão simplificada, que os ciganos usavam quando consultavam os gajon. Mas, para manter segredo sobre seu “Tarô”, os ciganos silenciaram a respeito do engano de Me. Le Normand. Entretanto, ocultando este fato, permitiram que os gajon entrassem nesta onda mágica de prever o futuro, explicar o passado e entender o presente. O Baralho cigano é composto de trinta e seis cartas que são dispostas de várias maneiras, conforme a necessidade do consulente.

            Para lidar com o Baralho devemos olhá-lo com respeito, além de procurar conhecer e entender um pouco da cultura cigana, de que é oriundo. O ritual para sua utilização é bastante importante, estando incluídos os quatro elementos: fogo, água, ar e terra. Cada um desses elementos irá atrair energias positivas, benéficas à leitura e ao ledor, protegendo-o de influências intrusas.

            O Baralho Cigano reflete a direção da vida da pessoa no momento em que ela está consultando as cartas, embora também revele a profunda motivação inconsciente do passado, que contribuiu para a atual situação. A observação dos símbolos desperta o interesse, a curiosidade, o receio e a esperança: sensações que ativam o inconsciente e permitem assim, que haja retrocesso no tempo e no espaço. Através dessa viagem, vai sendo trabalhado, gradativamente, o autoconhecimento, a iniciativa e a liberdade individual. Quanto maior for a precisão com que se observa as leis do Universo e os próprios pensamentos, maior será a nitidez das verdades mostradas pelas cartas.

            Cabe a quem interpreta o Baralho, produzir e conduzir essa troca mágica de energia, favorecendo essa viagem interior.

            As cartas não descrevem fatos concretos de forma predestinada, ao contrário, elas apenas ilustram as influências, as oportunidades e os motivos ocultos, muitos dos quais poderão se concretizar em fatos ou pessoas.

Hoje, o Baralho Cigano é encontrado à venda em lojas esotéricas e livrarias e ocupa um lugar tão privilegiado quanto o Tarô, na sociedade. Com um pouco de prática, toda pessoa pode receber e compreender as mensagens simbólicas das cartas, que revelam dons pessoais ocultos e dão indicações futuras no que diz respeito ao plano sentimental, situações financeiras e mesmo armadilhas que devem ser evitadas. Não é necessário ser um paranormal para efetuar a leitura das cartas ciganas, mas é extremamente importante estudar seus significados e estrutura. Através desse estudo, pode-se facilitar a fluidez da intuição. Uma boa leitura deve ser resultante de uma perfeita harmonia entre a técnica de leitura do baralho e nossas faculdades intuitivas.

 

 

Thursday
Sep222016

Principais Festas e Rituais

Banho da prosperidade:

            Costume que vem dos países da Europa central, principalmente Hungria e Áustria.

            Logo que o bebê cigano nasce, geralmente ainda na primeira semana de vida, é preparado o banho da prosperidade ou o banho da sorte para o pequeno cigano ou cigana. Os preparativos são realizados pela mãe do bebê e pelas demais mulheres do clã, pois um bebê representa para todos a garantia da continuidade de seu povo.

 

O RITUAL: Após um rápido banho de higiene, o bebê é transferido para outra bacia contendo água pura, as jóias de família, pétalas de rosas brancas e algumas gotas de mel.

A água pura simboliza a própria vida, traduzindo o sentido da purificação, da limpeza natural do corpo físico e do corpo áurico e do livramento das faltas cometidas no passado.

As jóias significam o desejo de que o bebê seja rico, próspero e bem sucedido financeiramente.

As pétalas de rosas brancas expressam a vontade de que o bebê tenha uma vida bela, perfumada. Bem sucedida no amor, e repleta de paz (o branco).

As gotas de mel traduzem o desejo de que aquele novo ser tenha uma vida tranqüila, doce, livre de sofrimentos e dores, com saúde.

            Enquanto o bebê é banhado por sua mãe, as mulheres rezam, especialmente a mãe do bebê, velhas orações herdadas dos antepassados. O clima é de muita alegria. Vida longa, rica e próspera, cheia de amor e paz sustentada por uma saúde perfeita é o significado abrangente do banho da prosperidade.

            Após o banho todos se reúnem para dançar, comer, beber e cantar, felizes por terem cumprido mais uma vez um ritual talvez milenar, de desejos positivos ao pequeno ser, nas mãos do qual se deposita a esperança da continuidade do clã e do próprio povo cigano.

 

 

 

O nome:

            Em geral, um cigano possui três nomes: o primeiro, que só ele e sua mãe conhecem; o segundo, como ele é chamado pelos ciganos do clã; e o terceiro, como é chamado pelos gajons.

            O primeiro nome, absolutamente secreto, é escolhido pela mãe e soprado em seus ouvidos na ocasião da primeira mamada. Este nome somente é conhecido por sua mãe, não sendo registrado ou comentado com ninguém. Somente aos sete anos de idade a pessoa passa a conhecê-lo, mas nunca o revela a ninguém. O povo cigano acredita que este nome é a ligação espiritual entre a mãe e seu bebê, e é usado apenas em situações bastante difíceis ou complicadas, em apelo especial de proteção.

 

 

A Slava:

            Toda criança cigana possui um santo protetor escolhido por seus pais. A escolha do santo é feita por algum aviso recebido em sonho, como homenagem por alguma graça recebida, ou através de alguma mensagem que soe como um aviso.

            Todos os anos, no dia do santo protetor, a família promove uma festa em homenagem ao santo. Os pais prosseguem com esta obrigação durante toda a vida do filho e, quando eles morrem, cabe ao filho prosseguir da mesma maneira com a cerimônia anual, enquanto viver.

            Esta festa é conhecida como slava e para ela são convidados os parentes e amigos mais chegados.

            A festa começa pontualmente às doze horas, com os pais, a criança e os convidados reunidos em torno da mesa onde serão servidas as bebidas, a comida, as frutas e o vinho. No centro da mesa é colocada a imagem do santo protetor, uma vela enfeitada de flores, um pão redondo e uma garrafa de vinho. Logo após acender a vela, que dá início à festa, o pai e a criança, frente a frente na cabeceira da mesa, começam a girar o pão recitando preces de agradecimento. Um parente próximo então derrama um pouco de vinho em quatro partes do pão, que serão beijadas pelo pai e pela criança. O pão em seguida é partido ao meio e recolocado no centro da mesa. Às dezoito horas, os pais renovam os agradecimentos e reforçam os pedidos ao santo, apagando a vela com um pedaço de pão bento.

            Depois disso, todos comem, bebem, cantam e dançam em louvor à criança e ao santo protetor.

 

 

A cerimônia do Noivado:

            Antigamente, o compromisso matrimonial era firmado quando os filhos eram bem pequenos, muitas vezes quando as mães ainda estavam grávidas. Com o passar do tempo este costume foi se perdendo, mas ainda nos dias atuais é possível encontrarmos noivos que só passam a se conhecer no dia do casamento.

            Segundo a tradição, a festa de noivado era realizada com a troca de punhais comprados pelas famílias dos noivos. O punhal da noiva era mais enfeitado com pedrarias e feminino, e o do noivo mais discreto. Após a confirmação do noivado, os punhais eram guardados cuidadosamente até o dia do casamento quando voltariam a ser usados na parte mais importante do casamento.

            Quando o compromisso de matrimônio era firmado entre as famílias, os pais dos noivos compravam uma garrafa da mais fina champanhe ou vinho da melhor qualidade e embrulhavam a garrafa em um lenço de seda vermelho. No dia do noivado a bebida era servida para brindar os noivos e o punhal da noiva guardado nesse mesmo lenço vermelho até o dia das bodas.

            O noivo presenteia a noiva com o kepara, cordão de ouro que simboliza o compromisso de noivado. Caso seja rompido o compromisso, o que raramente acontece, o kepara é retirado e devolvido à família do noivo, pois em geral é jóia de alto valor.

            No dia do noivado os pais da noiva fixam o valor a ser pago como dote no dia do casamento pelos pais do noivo. A quantia é baseada nas qualidades da moça, em sua beleza e em seus conhecimentos e habilidades para bem administrar o futuro lar. Quanto mais prendada e bonita for a jovem, maior será o valor do dote. Esta importância a ser paga, em geral em moedas de ouro, não é encarada como compra da noiva, mas como uma retribuição pelos gastos futuros e proteção dada à noiva pela família do noivo, pois depois de casados, manda a tradição que residam com os familiares do noivo de um a três anos. Este tempo é fixado para que a jovem esposa se adapte à sua nova família, aprendendo todos os gostos e hábitos de seu marido. Ela deverá tratar os sogros como sua verdadeira família, como pai e mãe, sendo tratada como uma filha. Deverá responder obedientemente à sogra e ao sogro, além do marido é claro. É sua obrigação zelar pela casa e responder integralmente por ela na ausência da sogra. No entanto, se ela for espancada ou mal tratada pela sogra, poderá retornar ao lar paterno, não sendo sua família obrigada a devolver o dote recebido na ocasião do casamento.

            Com o nascimento do primeiro filho, o casal poderá deixar a casa de seus pais e seguir o rumo que desejar, com uma exceção. Caso o jovem seja o filho caçula, deverá permanecer morando com seus pais e esposa, cuidando deles em todas as suas necessidades até o final de seus dias, e ele será o maior beneficiário dos bens paternos, herdando a casa em que estiver morando e todos os bens nela existentes. O restante do patrimônio dos pais será dividido entre os outros filhos.

 

 

O Casamento:

            A festa de casamento é uma das mais bonitas quando realizada segundo as tradições. Alegre, colorida e muito concorrida, ela pode durar vários dias, principalmente se os pais do noivo forem ricos, pois são eles que arcam com as devidas despesas.

            Cabe à família do noivo arranjar o local para a festa, as acomodações para os convidados, especialmente os que vierem de longe, e todas as custas das comidas e bebidas, que devem ser fartas e de excelente qualidade. A festa de casamento é uma das raras oportunidades de um cigano mostrar seu poderio econômico, motivo de vaidade familiar e pessoal. Os pais do noivo também mandam confeccionar os trajes dos noivos, inclusive a da noiva, sendo a vestimenta a melhor maneira da demonstração da riqueza dos futuros sogros. O vestido da noiva, na cor vermelha, deve ser de tecidos caros como seda, o brocado e as rendas, bordados com fios de preferência de ouro e ela deve comparecer à cerimônia usando as principais jóias da família e as presenteadas pelos pais do noivo, que devem exceder em valor e beleza as primeiras. Prendendo parte dos cabelos a noiva traz nos cabelos o lenço vermelho, também rico e com aplicações em ouro. O noivo se casa também de vermelho como cor principal, podendo usar o branco como cor complementar. Ele usa cordões de ouro no pescoço e sobre a faixa vermelha de seda enrolada na cintura correntes com moedas de ouro. Os pais dos noivos e os convidados usam seus melhores trajes e jóias.

            A bênção nupcial ou consagração do casamento é oficiada pelo patriarca do clã, um leigo (os ciganos não possuem sacerdotes), investido de autoridade para tal.

            É armado um altar próximo à tenda principal, ornamentado com flores, especialmente rosas vermelhas e brancas, e sobre ele colocada a imagem de Santa Sara e do santo protetor. Velas de várias cores são acesas ao lado de taças com água e vinho, significando a luz, a vida e a alegria, respectivamente e de braseiros junto ao altar evola a fumaça de incensos purificando o ar de qualquer energia negativa que possa estar presente. Peças de ouro e jóias permanecem em um pequeno baú sobre o altar, expressando o desejo de que os noivos sejam prósperos e não passem necessidades. Frutas, doces e trigo completam a decoração, traduzindo os votos de fartura para o jovem casal e que nunca faltem alimentos m sua tenda.

            É iniciada a cerimônia. O oficiante posta-se diante do altar e os noivos colocam-se frente a frente, diante dele, cercados pelos parentes e convidados, que silenciosamente testemunham o rito matrimonial. Entre rezas e invocações, o oficiante segura os punhais trocados por ocasião do noivado, sendo o lenço vermelho de seda atado ao punho dos noivos por um parente próximo. Através do lenço, o punhal da noiva realiza um pequeno corte no punho do noivo e vice-versa. Este é um momento simbólico do ritual quando o sangue dos noivos se mistura significando que eles estão unidos para sempre. Desatado o lenço os punhais são guardados juntos no mesmo lenço vermelho pelo casal, num local reservado e secreto da tenda para que tenha união e entendimento enquanto durarem suas vidas. Os ciganos não casam pensando em separação, mas em união eterna.

            Realizado o ato com os punhais, um pequeno pedaço de pão com um pouco de sal é oferecido aos noivos para que comam, simbolizando o alimento e o sabor. O pão, o alimento, a união duradoura do casal, e o sal, o sabor, a capacidade de superarem as agruras e dissabores pelo amor de um pelo outro. Enquanto o pão nutrir e o sal tiver sabor, o casal permanecerá unido.

            Finalmente, chega o final da cerimônia. Uma taça de cristal com vinho é oferecida aos noivos. Primeiro bebe a noiva e depois o noivo, que em seguida atira a taça ao chão para que se quebre. A taça deve ser do mais fino cristal para simbolizar a vida transparente do casal, onde o amor deve imperar acima de tudo. O vinho traduz a alegria e a felicidade, que envolve os jovens e a quebra da taça o desejo de que nada abale a união do casal, que deve ser perfeita, harmoniosa e forte apesar de toda a fragilidade de uma união. Caso a taça não quebre, isto traduz um sinal de mau agouro ou que a união poderá se desfazer. Nesse caso, o noivo pisa fortemente na taça para esmigalhá-la, expressando e dizendo publicamente que ele e sua mulher estarão juntos para sempre apesar de qualquer adversidade ou contratempo. O simbolismo do cristal é ainda mais rico, pois seus pedaços não podem ser rejuntados, ou colados uma vez quebrado, pois ficam estilhaçados, não oferecendo a menor possibilidade de recuperação. Assim deve ser o casal cigano: lindo, transparente, firme e sólido, apesar da extraordinária fragilidade humana e seus vínculos.

            Novas orações e pedidos da proteção de Deus para os noivos e cerimônia em si termina, mas a festa ainda tem de aguardar mais um momento precioso e sério, quando a virgindade da noiva, agora esposa, será verificada pelas mulheres mais importantes do clã. Quando a jovem esposa passa pelo teste, verificando-se que ela ainda é virgem, as mulheres e a recém-casada saem da tenda com ar de triunfo, sendo o fato participado a todos, e a festa pode começar.

            Começa enfim a festa propriamente dita, com muita música, danças, comidas e bebidas. Fogueiras são acesas e uma contagiante felicidade toma conta de tudo. A festa de casamento e sua cerimônia é, sem dúvida, a maior expressão da exaltação cigana da amorosa natureza deste povo, da entrega incondicional de um homem à sua mulher e desta mulher a seu homem.

 

 

 

 

Thursday
Jun302016

A Dança Cigana

A expressão Dança étnica é assim designada para falar sobre a dança que em seus movimentos manifesta ritmos, traços, tradições e ou crenças de um determinado grupo étnico. É assim que os ciganos procuram, com seus passos determinados, mãos em delicados arabescos, pés em volteios sedutores e ritmos fortes, manifestar a história, poesia e fé do povo cigano.

A dança cigana é uma dança altamente contagiosa. A alegria, a exuberância das cores, os gestos que trazem o feminino à tona, a sensualidade e o prazer de se entregar a um ritmo que une coração, alma e misticismo. A dança cigana é uma dança solta, da alma. Dizem os antigos, que os ciganos dançam para atingir a verdadeira essência da Deusa ou do Deus interior e superior. Por isso, dificilmente, os ciganos fazem coreografias; dançam soltos e livres, colocando em cada movimento suas emoções.

Dançar ao ritmo cigano não é apenas reproduzi-lo em movimentos; a dança é uma oração única, onde o bailarino tem a oportunidade de mostrar quem é, ou seja, seu ser, sentimentos, sonhos, a sabedoria que adquiriu em sua jornada e tudo que ainda busca, sua comunhão com a natureza e o sagrado, descobrir que faz parte de um todo divino chamado Universo.

“Com a cabeça levantada demonstra o poder de sua raça, o bater dos pés na terra clama a força desse elemento para bailar, as mãos para o alto pedem licença para exaltar a natureza, com a força feminina entrega-se ao ritual da dança e banha de beleza e mistério o espetáculo cigano. O barulho das moedas e pedras também tocam música no ritmo do rodopiar da cigana, as palmas envolvem e alimentam a força da cigana, que na sua oração saúda os presentes na comunhão do sagrado e da alegria.” Sumaya Sarran.

O povo cigano respeita e cultua os quatro elementos da natureza - terra, fogo, água, ar e éter - e os representam, na dança, através  do que usa ao dançar: o leque, lenço ou xale, rosa, pandeiro, fitas coloridas, véu, tochas, punhal, cada com um significado especial, que complementa e objetiva as mensagens que quer passar.  Seu uso ou não nas danças ciganas depende dos costumes do grupo ou das famílias, os lugares pelos quais passaram e quanto tempo ficaram, as afinidades e as suas ascendências:

Leque: O leque passeia há séculos nas mãos das mulheres, mas seu uso prático pouco tem a ver com os aspectos valorizados pela cigana ao dançar. Da maneira que se abre pode representar as fases da lua e da mulher, seus reais desejos ou apenas o que quiser demonstrar. É um poderoso instrumento de limpeza energética, magia para a cura e sedução. Sendo assim, está constantemente nas mãos espertas de uma cigana, atraindo a atenção para seu mistério e poder. O leque é mais característico nas danças kalóns, mas pelo seu encanto as mulheres que gostam, usam-no sempre que podem na sua dança. Representa o elemento ar , o amor, a sensualidade e a limpeza.

Xale: Representa o mistério e a magia do elemento fogo. Dançar com o xale é agradecer todas as dádivas ao criador, a sua força, o poder de ser mãe, o poder de seduzir o seu amor e também proteção e família. É usar toda poesia, força e magia. Representa também união, casamento e amor. O lenço é encantador quando seguro delicadamente nos dedos da cigana, envolvendo-a de mistério e aos poucos revelando sua beleza e poder. Ao dançar com o lenço, seus desejos, sentimentos e sonhos são movidos pelo deslizar do lenço pelo ar, no transe da música, livre como o vento e infinito como o céu. O lenço também transforma e limpa o ambiente, e pode representar pedidos ou coisas da vida que queremos mudar ao dançar. É uma das danças ciganas femininas mais belas, por isso pode ser encontrada de várias formas nas danças de todos os grupos ciganos.

Rosa: Elemento terra. Representa o amor, a beleza, a conquista, sedução e a sensualidade. É a beleza interior e a exterior. Os ciganos dançam, muitas vezes, com uma rosa presa entre os dentes, para presentear a mulher que está envolvida na dança.

Pandeiro: Dança dos quatro elementos, denota a alegria e sugere uma festa. Serve também para purificar o ambiente. O pandeiro traz a alegria do sol, saudando-o com inúmeras fitas coloridas, representando seus raios protetores e vivos. Como todo instrumento que faz barulho, ele tem como função expulsar os maus espíritos ou energias negativas, abrindo caminho para o povo festejar. Sua mensagem é mover, transformar o que está parado em ritmo, revigorar o nosso corpo com a alegria e o calor da dança, assim como o sol faz conosco. O uso das fitas pode ter nascido como um calendário para marcar eventos importantes e a idade; para saudar a chegada da primavera; para representar, através das cores das fitas, pedidos ou bênçãos. É mais utilizado nas danças do grupo Rom, acompanhando violinos e outras percussões.

Fitas coloridas: Elemento água. Representa as lágrimas de alegria e tristeza derrubadas pelo povo cigano. Representa também a comemoração, a limpeza, alegria e infantilidade. Dançar com fitas é quase uma brincadeira de criança, alegra qualquer tipo de ambiente, festeja os nascimentos e casamentos. Os movimentos das fitas rodopiantes manifestam o ritmo da vida e a alegria de fazer parte dela. As fitas são mais utilizadas nos ritmos rons, porém podem ser usadas em qualquer ritmo alegre.

Véu: Representa o elemento ar e expressa a leveza do corpo e a sensualidade.

Dança dos sete véus: Geralmente usada como uma despedida de solteiro. Representam as sete cores do arco-íris, simbolizando o amor e a sensualidade. As cores dos véus simbolizam os quatro elementos.

Tochas: Mostra a fúria e o poder do fogo. Representa a purificação e a limpeza pelo fogo.

Dança do punhal: Elementos ar e terra. Os ciganos sofreram muitas perseguições por seus conhecimentos esotéricos. Bruxos, feiticeiros, sacerdotes, ciganos… todos tiveram que adaptar seus cultos para que não fossem presos. A maioria passou a utilizar elementos do dia a dia em seus rituais e os transformaram em mágicos. Os ciganos passaram a usar o punhal e a adaga. As mulheres geralmente preferem os punhais, mais estreitos e delicados. Os homens preferem as adagas, mais largas e boas para briga, embora seja um povo essencialmente pacífico.

O punhal significa lutas, disputas, fúria e pode simbolizar a limpeza do ambiente e do corpo. Representa o corte, a força e a limpeza. Na dança ritual, o punhal é usado para realizar curas e magias. A maneira de trabalhar pode variar a cada clã ou família, mas geralmente mentalizam as forças da natureza e fazem movimentos que evocam os quatro elementos, de acordo com o que desejam.

Há muitas lendas e histórias sobre lutas, batalhas, brigas com punhal. Nem sempre são verdadeiras, mas certamente representam a luta e a força dos ciganos. No bailado de desafio, essa força é representada. O ideal é que não seja dançado sozinho, e sim, em dupla, para que haja troca de energia. Mas lembre-se: coloque sua força no olhar, dance, sinta o prazer do desafio e, ao final, cumprimente sua parceira de dança. A dança de desafio é só uma representação e acaba quando a música termina.

Dança dos quatro elementos: Feita com representações dos quatro elementos como: Vela, incenso, jarro d'água e sal. Significa magia e limpeza do ambiente.

Saia – Representa toda a força cigana, a sedução, respeito e alegria e quanto mais rodada a saia, maior é a sua força. Bater a saia é limpar, ordenar ou mesmo harmonizar as energias que estão desequilibradas. A saia guarda o nosso útero, e ser mãe é uma dádiva divina.

Bater Palmas: Bater palmas é um ato para saudar as alegrias da vida e homenagear os espíritos dos antepassados, sempre com o ritmo da música.

Quem se dedica à dança cigana segue os passos do coração. Dançar eleva a autoestima e faz redescobrir a sensualidade e reencontrar o seu lado feminino. Por ser a dança cigana mágica, reflete a alegria de um povo, que trás consigo o mistério através dos passos e dos movimentos que saúdam, invocam e fazem fluir a mais bela e elevada vibração energética.

A Dança Cigana não só faz bem ao corpo, mas também à alma. Formada por vários ritmos e coreografias diferentes, cada qual com seu significado, num composto de leveza, alegria e sentimentos.