A expressão Dança étnica é assim designada para falar sobre a dança que em seus movimentos manifesta ritmos, traços, tradições e ou crenças de um determinado grupo étnico. É assim que os ciganos procuram, com seus passos determinados, mãos em delicados arabescos, pés em volteios sedutores e ritmos fortes, manifestar a história, poesia e fé do povo cigano.
A dança cigana é uma dança altamente contagiosa. A alegria, a exuberância das cores, os gestos que trazem o feminino à tona, a sensualidade e o prazer de se entregar a um ritmo que une coração, alma e misticismo. A dança cigana é uma dança solta, da alma. Dizem os antigos, que os ciganos dançam para atingir a verdadeira essência da Deusa ou do Deus interior e superior. Por isso, dificilmente, os ciganos fazem coreografias; dançam soltos e livres, colocando em cada movimento suas emoções.
Dançar ao ritmo cigano não é apenas reproduzi-lo em movimentos; a dança é uma oração única, onde o bailarino tem a oportunidade de mostrar quem é, ou seja, seu ser, sentimentos, sonhos, a sabedoria que adquiriu em sua jornada e tudo que ainda busca, sua comunhão com a natureza e o sagrado, descobrir que faz parte de um todo divino chamado Universo.
“Com a cabeça levantada demonstra o poder de sua raça, o bater dos pés na terra clama a força desse elemento para bailar, as mãos para o alto pedem licença para exaltar a natureza, com a força feminina entrega-se ao ritual da dança e banha de beleza e mistério o espetáculo cigano. O barulho das moedas e pedras também tocam música no ritmo do rodopiar da cigana, as palmas envolvem e alimentam a força da cigana, que na sua oração saúda os presentes na comunhão do sagrado e da alegria.” Sumaya Sarran.
O povo cigano respeita e cultua os quatro elementos da natureza - terra, fogo, água, ar e éter - e os representam, na dança, através do que usa ao dançar: o leque, lenço ou xale, rosa, pandeiro, fitas coloridas, véu, tochas, punhal, cada com um significado especial, que complementa e objetiva as mensagens que quer passar. Seu uso ou não nas danças ciganas depende dos costumes do grupo ou das famílias, os lugares pelos quais passaram e quanto tempo ficaram, as afinidades e as suas ascendências:
Leque: O leque passeia há séculos nas mãos das mulheres, mas seu uso prático pouco tem a ver com os aspectos valorizados pela cigana ao dançar. Da maneira que se abre pode representar as fases da lua e da mulher, seus reais desejos ou apenas o que quiser demonstrar. É um poderoso instrumento de limpeza energética, magia para a cura e sedução. Sendo assim, está constantemente nas mãos espertas de uma cigana, atraindo a atenção para seu mistério e poder. O leque é mais característico nas danças kalóns, mas pelo seu encanto as mulheres que gostam, usam-no sempre que podem na sua dança. Representa o elemento ar , o amor, a sensualidade e a limpeza.
Xale: Representa o mistério e a magia do elemento fogo. Dançar com o xale é agradecer todas as dádivas ao criador, a sua força, o poder de ser mãe, o poder de seduzir o seu amor e também proteção e família. É usar toda poesia, força e magia. Representa também união, casamento e amor. O lenço é encantador quando seguro delicadamente nos dedos da cigana, envolvendo-a de mistério e aos poucos revelando sua beleza e poder. Ao dançar com o lenço, seus desejos, sentimentos e sonhos são movidos pelo deslizar do lenço pelo ar, no transe da música, livre como o vento e infinito como o céu. O lenço também transforma e limpa o ambiente, e pode representar pedidos ou coisas da vida que queremos mudar ao dançar. É uma das danças ciganas femininas mais belas, por isso pode ser encontrada de várias formas nas danças de todos os grupos ciganos.
Rosa: Elemento terra. Representa o amor, a beleza, a conquista, sedução e a sensualidade. É a beleza interior e a exterior. Os ciganos dançam, muitas vezes, com uma rosa presa entre os dentes, para presentear a mulher que está envolvida na dança.
Pandeiro: Dança dos quatro elementos, denota a alegria e sugere uma festa. Serve também para purificar o ambiente. O pandeiro traz a alegria do sol, saudando-o com inúmeras fitas coloridas, representando seus raios protetores e vivos. Como todo instrumento que faz barulho, ele tem como função expulsar os maus espíritos ou energias negativas, abrindo caminho para o povo festejar. Sua mensagem é mover, transformar o que está parado em ritmo, revigorar o nosso corpo com a alegria e o calor da dança, assim como o sol faz conosco. O uso das fitas pode ter nascido como um calendário para marcar eventos importantes e a idade; para saudar a chegada da primavera; para representar, através das cores das fitas, pedidos ou bênçãos. É mais utilizado nas danças do grupo Rom, acompanhando violinos e outras percussões.
Fitas coloridas: Elemento água. Representa as lágrimas de alegria e tristeza derrubadas pelo povo cigano. Representa também a comemoração, a limpeza, alegria e infantilidade. Dançar com fitas é quase uma brincadeira de criança, alegra qualquer tipo de ambiente, festeja os nascimentos e casamentos. Os movimentos das fitas rodopiantes manifestam o ritmo da vida e a alegria de fazer parte dela. As fitas são mais utilizadas nos ritmos rons, porém podem ser usadas em qualquer ritmo alegre.
Véu: Representa o elemento ar e expressa a leveza do corpo e a sensualidade.
Dança dos sete véus: Geralmente usada como uma despedida de solteiro. Representam as sete cores do arco-íris, simbolizando o amor e a sensualidade. As cores dos véus simbolizam os quatro elementos.
Tochas: Mostra a fúria e o poder do fogo. Representa a purificação e a limpeza pelo fogo.
Dança do punhal: Elementos ar e terra. Os ciganos sofreram muitas perseguições por seus conhecimentos esotéricos. Bruxos, feiticeiros, sacerdotes, ciganos… todos tiveram que adaptar seus cultos para que não fossem presos. A maioria passou a utilizar elementos do dia a dia em seus rituais e os transformaram em mágicos. Os ciganos passaram a usar o punhal e a adaga. As mulheres geralmente preferem os punhais, mais estreitos e delicados. Os homens preferem as adagas, mais largas e boas para briga, embora seja um povo essencialmente pacífico.
O punhal significa lutas, disputas, fúria e pode simbolizar a limpeza do ambiente e do corpo. Representa o corte, a força e a limpeza. Na dança ritual, o punhal é usado para realizar curas e magias. A maneira de trabalhar pode variar a cada clã ou família, mas geralmente mentalizam as forças da natureza e fazem movimentos que evocam os quatro elementos, de acordo com o que desejam.
Há muitas lendas e histórias sobre lutas, batalhas, brigas com punhal. Nem sempre são verdadeiras, mas certamente representam a luta e a força dos ciganos. No bailado de desafio, essa força é representada. O ideal é que não seja dançado sozinho, e sim, em dupla, para que haja troca de energia. Mas lembre-se: coloque sua força no olhar, dance, sinta o prazer do desafio e, ao final, cumprimente sua parceira de dança. A dança de desafio é só uma representação e acaba quando a música termina.
Dança dos quatro elementos: Feita com representações dos quatro elementos como: Vela, incenso, jarro d'água e sal. Significa magia e limpeza do ambiente.
Saia – Representa toda a força cigana, a sedução, respeito e alegria e quanto mais rodada a saia, maior é a sua força. Bater a saia é limpar, ordenar ou mesmo harmonizar as energias que estão desequilibradas. A saia guarda o nosso útero, e ser mãe é uma dádiva divina.
Bater Palmas: Bater palmas é um ato para saudar as alegrias da vida e homenagear os espíritos dos antepassados, sempre com o ritmo da música.
Quem se dedica à dança cigana segue os passos do coração. Dançar eleva a autoestima e faz redescobrir a sensualidade e reencontrar o seu lado feminino. Por ser a dança cigana mágica, reflete a alegria de um povo, que trás consigo o mistério através dos passos e dos movimentos que saúdam, invocam e fazem fluir a mais bela e elevada vibração energética.
A Dança Cigana não só faz bem ao corpo, mas também à alma. Formada por vários ritmos e coreografias diferentes, cada qual com seu significado, num composto de leveza, alegria e sentimentos.