Entries in Ciganos (18)

Thursday
Jul022015

Os ciganos no Brasil

Não se tem muitos documentos a respeito da história dos ciganos porque sua língua é ágrafa, sem grafia, não existem registros escritos. A informação nos é chegada através de afirmações orais nem sempre comprovadas.

            Somente no final do século XVII é que podemos ver generalizados o degredo de ciganos para o Brasil. Bandos deles, provenientes de Castela, entravam em Portugal. Sua Majestade D. Pedro, rei de Portugal e Algarves, preocupadíssimo com a “inundação de gente tão ociosa e prejudicial por sua vida e costumes, andando armados para melhor cometerem seus assaltos”, decidiu determinar, por decreto, que, além do degredo para a África, eles seriam também banidos para o Brasil: “Tendo resoluto que os ciganos e ciganas se pratique a lei, assim nesta corte, como nas mais terras do Reino; com declaração que os anos que a mesma lei lhes impõem para África, sejam para o Maranhão, e que os Ministros que assim o não executarem, lhes seja dado em culpa para serem castigados, conforme o dolo e omissão que sobre este particular tiverem.” – Decreto em que se mandou substituir o exílio da África para o Maranhão, in F. A. Coelho, Os Ciganos de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1892.

            Esta resolução real foi estabelecida em 1686, mas a história dos ciganos no Brasil teve início realmente quando, em 1574, durante o reinado de D. Sebastião, o cigano João Torres veio degredado para o Brasil com sua mulher e filhos por cinco anos.

            A Metrópole despejou seus “criminosos” nas terras coloniais ultramarinas, particularmente no Brasil e na África. A colônia, por sua vez, mandou seus elementos indesejáveis e “gentes inúteis” para outras capitanias e continentes.

            Em Minas Gerais, a presença cigana é sentida a partir de 1718, quando chegam ciganos vindos da Bahia, para onde haviam sido deportados de Portugal. Na época em que começaram a chegar em Minas Gerais havia neste estado um movimento muito importante com objetivos de progresso e ideais de independência. Como essas ideias não estavam consoantes com os ciganos, eles não eram bem vistos, sendo considerados inúteis à sociedade, vândalos, corruptores de costumes. Só começaram a ser vistos de outra forma quando passaram a comerciar escravos pelo interior do país. Esta atividade proporcionou uma maior aceitação e mesmo valorização social dos ciganos, já que passaram a exercer um trabalho reconhecido como útil por grande parte da população. Alguns ciganos tornaram-se ilustres, patrocinando até festividades na Corte.

            No Rio de Janeiro, nos anos de 1700, os ciganos se estabeleciam nas cercanias do Campo de Santana. Suas pequenas casas, guarnecidas de esteiras ou rótulas de taquara, cercam o campo, dando origem à chamada Rua dos Ciganos (Rua da Constituição). Os ciganos festejavam Santana, a quem chamavam de Cigana Velha.

            Nas últimas décadas, pesquisadores concluíram que os ciganos no Brasil estão divididos em dois grandes grupos: Rom e Calon.

            O grupo Rom é dividido em vários subgrupos, como os Kalderash, Matchuara, Lovara e Tchurara.

            Do grupo Calon, cuja língua é o caló, fazem parte os ciganos que vieram de Portugal e Espanha para o Brasil. São encontrados em maior número no nordeste, Minas e parte de São Paulo.

            A Constituição de 1988 quase teve um artigo específico para os ciganos  estabelecendo o respeito à minoria cigana. O então deputado Antonio Mariz propôs emenda proibindo a discriminação étnica ou racial.

            Mesmo assim, os ciganos estão abrangidos pela grande proteção dada pelos artigos 215 e 216 da Constituição, que manda preservar, proteger e respeitar o patrimônio cultural brasileiro, o qual é constituído pelos modos de ser, viver, se expressar, e produzir de todos os segmentos étnicos que formam o processo civilizatório nacional.

            Como toda minoria étnica(religiosa ou linguística), os ciganos têm direitos importantes. O primeiro deles é o direito de não ser objeto de discriminação.

            Afinal, um povo fascinante, amante da natureza, que sabe respeitar suas crianças e seus anciãos, que preserva suas origens e tradições apesar de toda perseguição e barbaridades sofridas, merece ser respeitado.

            Não adianta amarmos nossas entidades ciganas, promovermos festas em sua homenagem, se não tivermos um mínimo de respeito e consideração por sua raça.

                                                                                                        Optchá!

 

Saturday
May232015

Por Dom José Edson Santa Oliveira Bispo da Diocese de Eunápolis – BA

SEXTA, 22 MAIO 2015 16:21     CNBB


Por ocasião do Dia Nacional dos Ciganos, celebrado no domingo, 24 de maio, a Pastoral dos Nômades da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota saudando o povo cigano e os agentes de pastoral "que dão suas vidas para levar Cristo" àqueles que sofrem com a invisibilidade perante a sociedade. O texto, assinado pelo bispo de Eunápolis (BA) e referencial da Pastoral, dom José Edson Santana Oliveira, convida para a reflexão sobre a realidade dos nômades do Brasil e propõe a superação das relações de suspeita, preconceito e desconfiança.

Leia na íntegra:

  24 de maio: Dia Nacional dos Ciganos



A Pastoral dos Nômades do Brasil parabeniza todo o povo cigano pelo seu dia! Agradece também a todos os seus Agentes de Pastoral que dão suas vidas para levar Cristo a estes nossos irmãos e irmãs “invisíveis”.

Hoje é dia de festejarmos, de nos alegrarmos por esta data especial! Não obstante, é também dia de convidarmos os ciganos e não-ciganos, dentro e fora da Igreja, a refletir sobre a realidade cigana no Brasil.

A Igreja no Brasil, através de suas diretrizes, nos convida a apoiar as iniciativas de inclusão social e os direitos das minorias (DGAE 117). Diante disso, unamos nossa voz aos milhares de ciganos e ciganas que lutam em defesa de seus direitos, principalmente o direito de ir e vir e permanecer; o direito da inviolabilidade de suas barracas e a preservação de sua cultura.

A Pastoral dos Nômades coloca-se contra toda forma de discriminação e racismo contra o povo cigano. Povo este que há muito vem contribuindo com valores abandonados pelos não-ciganos, como, por exemplo, a valorização da cultura, não se deixando levar por modismos, além da valorização da criança e do idoso, tendo sempre a família como base de toda sua ação.

Aproveitando esta data, convidamos a todos a darmos um passo mais significativo em nossa ação evangelizadora: sairmos de uma relação de suspeita e entrarmos numa relação de confiança. E, para superarmos esta desconfiança, precisamos de gestos concretos de solidariedade cotidianamente.

Que o Bem-Aventurado Zeferino, cigano e mártir, interceda a Deus por cada um de nós, para que abramos nossos corações e, com ele aberto, acolhamos o cigano como o irmão e a irmã que Deus nos enviou para caminharmos juntos rumo à Terra Prometida, onde viveremos como uma grande família e onde teremos vida e vida em abundância.



Dom José Edson Santa Oliveira
Bispo da Diocese de Eunápolis – BA
Referencial da Pastoral dos Nômades

Tuesday
May122015

VALORES DO POVO CIGANO

“Não construímos casas para habitar nelas, nem possuímos vinhas, nem campos de sementeiras, vivendo debaixo de tendas...” (Jeremias 35,9-10).

Vivemos em um mundo onde as grandes referências de nossa vida tem sido deixadas de lado, referenciais como a família, a partilha, à indissolubilidade do matrimônio, a religiosidade e outros. Essa ausência dos valores e dos referenciais tem tornado a sociedade frágil e facilmente direcionada para caminhos que não nos leva para experiência de vida com dignidade.
Esses dias fazendo uma reflexão sobre os valores modernos e a vida dos ciganos percebi que temos muito que aprender com esta cultura que, ainda mantém alguns valores essências para nós, como por exemplo:
A partilha: Em um acampamento cigano consegue-se se fazer a experiência da partilha, que foi um pedido feito desde dos tempos dos primeiros cristãos, "Os cristãos tinham tudo em comum" (At. 2, 44). Em um acampamento cigano uma família jamais passa necessidade, pois o pouco que se tem é divido entre todos;
Valor das crianças: A criança é considerada como Benção de Deus para a família. Não conheço uma criança cigana que tenha sido deixada em um orfanato. As famílias ciganas são numerosas, pois não usam nenhum tipo de contraceptivos e a pessoa é valorizada desde a fecundação até a morte natural. Na tradição cigana, a pessoa nunca é descartada como um objeto frio e sem valor. A criança é futuro do grupo e desde cedo ela é formada para isso, é tratada como um valor em si, para levar adiante os valores fundamentais da vida;
Valor do idoso: O idoso é considerado como o portador da experiência. Poderíamos dizer que como se fosse uma biblioteca ambulante, por isso nada vai adiante em um acampamento cigano, sem antes ser ouvida a opinião do ancião, sempre a última palavra é dele. Em todos estes, mais de 40 anos, de trabalho pastoral com os ciganos nunca encontrei um cigano em um asilo de idosos;
Valor da Família: Os ciganos vivem em função da família, não conseguem viver fora dela, toda a sua vida e os seus negócios, são em função de que a família possa viver com dignidade. Por isso, os casamentos são bonitos, bem preparados e com um fato muito importante, são indissolúveis. O casamento é visto como o início de uma nova família sobre as Bênçãos de Deus;
Valor da religiosidade: Os ciganos, em sua maioria são religiosos, dificilmente você encontra uma criança cigana que não seja batizada e um casal que não seja casado na Igreja. É muito comum que nas barracas ou nas casas haja um oratório com um santo de devoção. O que me chama a atenção é a confiança que o povo cigano tem em Deus, pois tudo da vida deles é entregue a Deus; a proteção da barraca ou da casa em que vivem. Geralmente expostos ao tempo e ao vento, a chuva; o alimento é conquista para aquele dia, outro dia confiam que Deus vai providenciar. É importante valorizarmos este abandono total nas mãos de Deus e a confiança na sua Divina Providência.
Estes são alguns exemplos, dos vários que podemos pegar do povo cigano, povo que tem uma cultura milenar, e que mesmo sendo excluído, tornado invisível, consegue manter valores que a nossa sociedade moderna tem abandonado, por isso consegue manter a sua cultura forte, ao contrário da sociedade atual que cada dia tem vivido mais uma realidade de desmantelamento de valores essenciais para o bem de todos.
Somos eternos nômades, em busca de Deus.

Dom José Edson Santana Oliveira
Bispo diocesano de Eunápolis
Costa do descobrimento
Referencial da Pastoral dos Nômades

Wednesday
Jul022014

Chame hostilidade contra os ciganos por seu nome: a inclusão dos ciganos no próximo Parlamento Europeu e a Comissão

O primeiro passo para combater a hostilidade contra os ciganos é reconhecê-lo como tal, argumenta Martin Demirovski de ENAR, a Rede Europeia contra o Racismo, em um chamado sobre as instituições europeias renovados para tornar a luta contra este fenómeno crescente na Europa uma prioridade.

Martin Demirovski é um especialista de defesa na Rede Europeia Contra o Racismo (ENAR).

30/06/2014 - De 2004 a 2009, o Parlamento Europeu desempenhou um papel fundamental em que convida a Comissão Europeia a desenvolver uma estratégia europeia para os Roma (ciganos), para garantir a inclusão do maior grupo minoritário da Europa. Em resposta a este apelo visionário, em 2010, a Comissão Europeia e o Conselho da União Europeia adaptou um quadro europeu para as estratégias nacionais de integração dos ciganos. No entanto, embora exista o “trabalho no papel” é ainda necessário assegurar a implementação destas estratégias, especialmente em um contexto de aumento da violência racista e discurso voltado para o Roma (ciganos). O linchamento recente de um adolescente cigano na França é apenas o último de muitos desses incidentes de violência em toda a Europa.

Isso vai exigir debate contínuo e aberto entre Roma (ciganos) e as partes interessadas não ciganas, e as instituições europeias, sobre a forma como a pressão sobre os Estados membros da UE serão garantidos e terá de ser uma prioridade para a nova Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, 2014-2019.

É fundamental que o próximo Parlamento Europeu continue a ser "uma força motriz" na inclusão dos ciganos na UE. Apesar do aumento em assentos racistas e xenófobos (Xenofobia - aversão a pessoa ou coisas estrangeiras), os principais partidos no Parlamento Europeu terão de falar a mesma língua em defesa dos valores fundamentais da UE da igualdade e da proteção dos direitos fundamentais. Só uma visão coerente irá garantir que ciganos se tornem cidadãos iguais da Europa.

Infelizmente, como Aidan McGarry, autor do artigo "O dilema da política de Roma da União Europeia", ciganos são tratados como um"grupo social com um problema social específico" nas políticas ciganas europeias atuais, sem ter em conta o fato de que o racismo contra o cigano é um fator crucial. A falta de respeito por uma "política de reconhecimento" põe em risco, assim, a futura implementação de políticas de ciganos da UE. Na verdade, o combate à discriminação racial / hostilidade contra os ciganos é uma pré-condição para a inclusão de sucesso dos ciganos na Europa, como ativistas ciganos têm sublinhado, e está atualmente em falta nas estratégias nacionais de integração dos ciganos.

Com um novo Parlamento Europeu e da Comissão Europeia a partir de julho, há uma oportunidade de ouro pela frente para repensar e, se necessário, alterar as políticas de inclusão cigana.

Um passo para frente seria fazer da luta contra a discriminação / hostilidade contra os ciganos se tornar um pilar adicional nas políticas europeias existentes ciganas. Para alcançar isso, o Parlamento Europeu poderia, por exemplo, incluir a tarefa Agência Europeia dos Direitos Fundamentais para conduzir pesquisas a nível europeu sobre hostilidade contra os ciganos e publicar um relatório em que se chamaria isso de forma específica de racismo pelo seu verdadeiro nome. Se o relatório apresentar resultados alarmantes, o Parlamento Europeu deverá dar uma oportunidade política para agir -  agir de maneira que irá reconhecer hostilidade contra os ciganos e pedir à Comissão para trabalhar na prevenção deste fenômeno. Além disso, a dinâmica atual do Quadro de Roma (ciganos) da UE, o Parlamento Europeu terá um canal oficial e permanente de comunicação com as ONGs envolvidas na implementação das estratégias nacionais de integração dos ciganos. Só através do diálogo estreito e contínuo com as ONGs e outras agências, o EP vai ser capaz de fazer avançar a inclusão dos ciganos na UE.

O reconhecimento formal da hostilidade contra os ciganos a nível da UE iria enviar uma mensagem política forte, como foi feito anteriormente com o reconhecimento do antissemitismo na Europa - especialmente em um contexto de crescente influência dos discursos racistas e xenófobos.

Link: http://www.euractiv.com/sections/future-eu/call-anti-gypsyism-its-name-roma-inclusion-next-european-parliament-and

Thursday
May292014

Os líderes europeus pediram para acabar com sofrimento de 600.000 pessoas apátridas

Por Emma Batha

Londres, 28/05/2014 - Os líderes europeus devem tomar medidas para acabar com a situação de cerca de 600.000 pessoas apátridas que estão presas em um limbo legal de pesadelo dentro de suas fronteiras. Os ativistas lançaram nesta quarta-feira uma petição para que os governos registrem a apatridia nos livros de história.

Um apátrida é alguém que não é reconhecido como um cidadão de qualquer país e, consequentemente, tem negados os seus direitos básicos. Os apátridas (os ciganos são considerados apátridas) têm pouco ou nenhum acesso à educação, saúde, empregos formais e alojamento. Eles não podem viajar para o exterior, comprar propriedades, abrir uma conta bancária, obter uma carta de condução ou até mesmo se casar. Em muitos casos, os seus filhos vão herdar sua apatridia.

Como resultado, muitos vivem na miséria, separados de seus entes queridos e vulneráveis ​​à exploração e detenção.

"É comum dizer que as pessoas apátridas não têm o direito a ter direitos", disse Chris Nash, coordenador da Rede Europeia dos Apátridas (ENS), que está lançando a petição como parte de uma campanha mais ampla. "Precisamos trazer fantasmas legais da Europa para fora das sombras e garantir que as pessoas apátridas sejam tratadas com respeito e dignidade."

Leia mais sobre http://www.trust.org/item/20140527065703-mwlxb/